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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

No rastro das eleições


Maurício Correa
Advogado

O mandato dos governadores é de quatro anos. Podem ser reeleitos para mais um período de igual duração. Durante os dois primeiros anos de governo, economizam recursos, sobretudo se pretendem candidatar-se à reeleição. Nessa hipótese, atrasam ou sustam pagamentos de faturas e, não raro, interrompem obras iniciadas por governos anteriores. Dispensam servidores do quadro de confiança; extinguem cargos; fecham as portas para novas nomeações, mas deixando precavidamente uma frestazinha disponível para atender amigos; aumentam impostos, notadamente o IPTU; e, além do mais, criam alternativas de fortalecimento de caixa.

Fazem alterações na estrutura dos órgãos da administração, mudam seus nomes, locais de funcionamento e as funções de cada um, tudo a pretexto de lhes dar maior desempenho com menores dispêndios. Aproveitam para impor outras medidas de arrocho aos contribuintes, sob o fundamento de que a casa precisa antes ser arrumada. Para cada demanda do povo sobre algo que implique gastos, a resposta está na ponta da língua: a pretensão é justa, mas o governo não tem condições de atender neste momento. É a velha regra do maquiavelismo de que é preciso fazer o que é ruim de uma só vez e o que é bom em doses homeopáticas.

Esse ensinamento tem sido cumprido de forma regular pelos governadores em quase todos os estados. Em Minas, por exemplo, o modelo foi seguido pelo governador nos dois primeiros anos do primeiro mandato. Funcionou além das expectativas. Está muito bem situado junto ao eleitorado mineiro. Sabe que, já reeleito governador, não pode mais ser candidato ao mesmo cargo. Seu prestígio lhe dá, entretanto, nas pesquisas feitas até aqui como candidato à Presidência da República, no ano vindouro, o primeiro lugar entre os demais

nomes dos pré-candidatos avaliados no estado. Não é necessário dar mais exemplos acerca dos bons resultados da experiência. Basta consultar os fatos nos demais estados do país. O costume virou praxe onde haja reeleição de governador.

Vencida a fase das restrições para fazer o mal de uma vez só, tudo começa a se modificar após o terceiro ano do primeiro mandato. Dá-se início à estação do bem. É quando as torneiras do Tesouro se abrem. Para mostrar que são competentes, empenham-se na tarefa de promover obras onde for possível. Os recursos poupados têm essa finalidade. É hora de gastá-los. O povo fica feliz em ver que canteiros de obras se estendem por toda parte; ruas, avenidas, escolas e postos de saúde são construídos; estradas são asfaltadas, ampliadas ou duplicadas; obras paralisadas recomeçam; terras são removidas de buracos para a passagem de esgotos; melhoram os transportes públicos com medidas que atendem às queixas do usuário; a merenda escolar passa a ser distribuída com mais frequência; diminuem-se as filas nos hospitais; casas populares são erguidas para venda subsidiada; a polícia fica mais atenta; o asfalto é levado até as periferias. Enfim, é uma festa só. As eleições se aproximam.

Não podia ser diferente em Brasília. Se o desejo é ir para Sobradinho, Planaltina ou núcleos adjacentes, é só observar da janela do ônibus ou do carro para ver a frenética movimentação de máquinas e pessoas empregadas no afã de melhorar as vias existentes e abrir outras para maior conforto de todos. Se o destino é Taguatinga, Ceilândia, Samambaia,

Brazlândia, Gama e arredores, o mesmo fenômeno se repete. As ruas e avenidas do Plano Piloto recobrem-se de novas camadas de asfalto. Há obras em profusão em torno dos eixos e avenidas que cortam o Setor de Indústria e Abastecimento. Ninguém sabe de onde saem tantas escavadeiras, retroescavadeiras, rolos compressores, tratores de pneu e esteira, motoniveladoras, pás mecânicas e uma infinidade de caminhões de diversos tamanhos.

Que fez o governador do DF no início de seu governo? Tomou medidas drásticas. Demitiu muita gente, derrubou esqueletos de prédios sem condições de conclusão, reteve pagamentos de faturas, pôs abaixo barracos irregulares, as obras públicas reduziram-se ao mínimo indispensável, deu cabo à farra dos camelôs da Rodoviária, fez uma limpa no Instituto Candango de Solidariedade (ICS), extinguiu o transporte de vans, e vai por aí. Encerrada a temporada do que tinha que ser feito de uma única vez, já é hora de providenciar boas coisas até as eleições. Brasília se enche de obras.

Não vai nisso qualquer censura ao governador de Brasília. Todos nós gostamos de sentir dinamismo da administração pública. Esse é o procedimento de todos que, no poder, ambicionam a reeleição. A Justiça Eleitoral sabe que o fato é verdadeiro. Tratando-se de obras públicas necessárias e urgentes, nenhuma aparente ilegalidade existe, até porque o processo eleitoral ainda nem se instaurou. Pena é que iniciativas dessas só aparecem quando se aproximam as eleições. Assim mesmo dá para festejar. A pasmaceira da inação do administrador público cede lugar às ações de melhoria da vida do povo. Esse o grande mérito das eleições.

No caso especial de Brasília, é muito bom ver obras por toda parte. Resta saber se haverá fôlego para concluí-las. Se o expediente vai render votos, só após outubro de 2010 é que se saberá. Até lá, que venham mais obras.
CORREIO BRAZILIENSE - 26/07/2009
Postado por LILICARABINA

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