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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A estrela estilhaçada


Nas palavras de Pedro Simon, o 19 de agosto será lembrado como o “dia em que o PT abraçou Sarney e Fernando Collor, e Marina Silva saiu”. Constrangida pela determinação passada horas antes pelo núcleo palaciano, a bancada petista livrou o presidente do Senado, José Sarney, de todas as ações apresentadas no Conselho de Ética. A decisão esfacelou a unidade partidária — Delcídio Amaral e Ideli Salvatti não disfarçavam a insatisfação —, desmoralizou Aloizio Mercadante como líder do PT e causou profundas decepções. “O PT tem de buscar outra bandeira, porque a ética foi jogada no lixo”, lamentou o senador Flávio Arns (PR). No mesmo Senado, uma petista histórica anunciou o fim de uma parceria de 30 anos. Marina Silva oficializou a saída do partido e abriu caminho para a filiação ao PV. Enquanto o PT naufraga no Senado, o marqueteiro de Lula, João Santana, coordena a estratégia da nova imagem de Dilma Rousseff. A mãe do PAC agora deverá ser vista como a mãe da casa própria.

PT sangra para salvar Sarney

Constrangida, bancada petista faz jogo do Planalto e aprova arquivamento de denúncias contra o presidente do Senado. Termina o dia esfacelada e exposta à execração dos oposicionistas

Denise Rothenburg
Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press

Delcídio (e) com João Pedro: esperança de que o eleitor petista nos estados consiga esquecer o dia de ontem no Senado

O PT cumpriu sua parte no acordo que ontem, em duas horas e meia e três votações, livrou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de seis denúncias e 11 representações, e o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), de outras seis. Mas a bancada do partido nunca mais será a mesma. Ela saiu esfacelada, exposta à execração por parte dos oposicionistas, que tripudiaram sobre o voto dos petistas no colegiado. O líder Aloizio Mercadante, que manteve a posição pelo afastamento de Sarney e pela investigação, foi obrigado a ouvir de Pedro Simon (PMDB-RS) que 19 de agosto ficaria conhecido o “dia em que o PT abraçou Sarney e Fernando Collor (PTB-AL) e Marina Silva saiu” da legenda.
O constrangimento dos petistas Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC), os dois que votaram e serão candidatos em 2010, era visível. Ideli, sempre falante e acostumada à primeira fila do plenário e das comissões da Casa, ficou muda e se sentou ao fundo, no canto direito da plateia. Delcídio, duas fileiras à frente de Ideli, também não falou. “Os integrantes da bancada no Conselho de Ética se sentiram desamparados pelo seu ainda líder”, disse Delcídio, dando a senha de que aceitaria de bom grado que Mercadante entregasse o cargo (leia mais na página 3).

O “não” que os dois deram contra o recurso que pretendia expor Sarney a uma investigação foi responsável pelo placar de 9 a 6 em favor do presidente do Senado em duas votações. Mas foi arrancado a fórceps cinco horas antes da decisão, dentro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o “Planalto provisório” do presidente Lula.

Ali, Gilberto Carvalho, o braço direito do presidente, reuniu o presidente do PT, Ricardo Berzoini, o secretário-geral do partido, José Eduardo Cardozo, os líderes petistas no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), o do governo, Henrique Fontana (RS), e os três votos no Conselho de Ética, Delcídio, Ideli, e João Pedro (AM).

Gilberto não falou. Mas só o fato de estar presente deixava claro que as palavras de Berzoini tinham o aval de Lula. O presidente petista explicou que entre os votos de opinião no cenário de hoje e o apoio do PMDB com vistas a uma possível aliança em 2010, o partido ficaria com Sarney. Quanto ao povo, o presidente Lula acreditava que não era isso que iria prejudicar o partido na hora de olhar de frente para o eleitor. Berzoini disse estar convencido de que era melhor encerrar tudo agora do que deixar Sarney sangrando, o Senado em chamas, e o PMDB cada vez mais longe do PT.

No Conselho, a oposição votou contra Sarney. O DEM foi claro: “Quem tem que salvar Sarney é o PT que é aliado dele”, cobrou o líder José Agripino (RN). Por isso, o senador ACM Júnior (DEM-BA) preferiu não comparecer, em nome da amizade que une as duas famílias a gerações. O PSDB seguiu o mesmo caminho, mas não deve recorrer (1)mais das representações para o plenário ou Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Até porque, se o governo teve maioria para preservar Sarney terá também para cassar o mandato do senador Arthur Virgílio, que ontem falou no conselho e uniu governo e oposição pela sua absolvição, 15 a 0. Mas o discurso foi apenas para “inglês ver”. O jogo estava combinado, conforme avisou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG): “Só quero avisar que a sua fala não vai mudar o meu voto e o senhor sabe por que eu estou dizendo isso”, disse Salgado. Ontem, governo e oposição terminaram empatados. Hoje, começa um novo jogo.

1 - Fim do conselho
O próximo capítulo da crise será o futuro do Conselho de Ética do Senado, um tema que entra em pauta todas as vezes em que representações são arquivadas. “Esse sistema faliu. Aqui, sempre será assim: independentemente de qual partido seja governo ou oposição, quem tiver maioria não será investigado aqui”, afirmou o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). “Se for para continuar como está, é melhor acabar”, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Os tucanos pretendem agora renunciar a todos os cargos que ocupam no conselho, um colegiado que, mais uma vez, estará em xeque. Por isso, não será surpresa se hoje algum oposicionista propuser que o presidente Sarney aproveite a reforma administrativa da Casa para acrescentar a extinção do Conselho.
CORREIO BRAZILIENSE - 20/08/2009
Postado por LILICARABINA

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