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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O fim dos escrúpulos


Nenhum sopro de decência restou ao Senado brasileiro depois da triste armação dos últimos dias. O arquivamento sem ressalvas de todas as denúncias contra seus membros dizimou a credibilidade daquela casa e aniquilou qualquer chance de moralização parlamentar na vigência dos mandatos da tropa de choque que está aí. Diz o dicionário "Aurélio" que a política é "a arte de bem governar os povos; o sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos".

Os senadores revisaram esses princípios, sucumbiram ao acórdão coletivo e lambuzaram-se com a pizza. Acossados por tantas ofensas à ética, alguns brasileiros sentiram-se premidos a protestar pelas ruas do País. Em vão. A anulação do interesse público foi sacramentada justamente por aqueles que deveriam zelar por ele. Uma bofetada na sociedade, dada sem nenhum constrangimento. E, neste pormenor, partidos diferentes na sigla e no arcabouço de ideias mostraram-se siameses na ação. À esquerda e à direita, valeu mesmo o conceito de safar seus pares. E da forma mais desavergonhada possível. Sem escrúpulos. Alguns poucos parlamentares encenaram indignação. Ameaçaram com o abandono de seus postos. E foram logo desprezados pelo rolo compressor dos caciques.

O vexame do arquivamento apareceu, sem retoques, estampado na cara daqueles que protagonizaram o ato. Temerosos de futuras conse - quências - que virão, mais cedo ou mais tarde -, muitos sacramentaram o papelão político discretamente. Pronunciaram seu voto de maneira quase inaudível. Eloquentes em outras ocasiões para bradar contra injustiças alheias, os legisladores agora se esquivaram dos microfones. Não queriam alarde para o voto da vergonha. Muitos empenharam uma história de conduta ética em nome de uma suposta governabilidade e caíram no conto oficial de que tudo não passa de "denuncismo".

A pregação enganosa do "denuncismo" só cola nos corações e mentes desses senhores. Até por conveniência. Engolfados pela crítica, imaginam que seus desvios logo serão esquecidos. Mas na caldeira de pressão democrática do País não há mais espaço para essa pajelança. O vexame cobrará seu preço. Longe de ser uma derrota dos eleitores, serviu como uma lição para eles do que e como mudar seu quadro de representação.

Carlos José Marques, diretor editorial
ISTOÉ - 22/08/2009

Postado por LILICARABINA

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